Em 8 de março de 1999, em um apartamento na Montgomery Street, na sombra da Coit Tower, em São Francisco, Marc Benioff e seus cofundadores começaram o que se tornaria a empresa de software empresarial de mais rápido crescimento de todos os tempos.
Talvez você não tenha ouvido falar na Salesforce, pois ela é uma empresa que atua no ramo B2B (de empresa para empresa). Mas se eu te disser que lá no Vale do Silício, onde estão Google, Facebook e Instagram, o arranha-céu mais alto de toda a Baía de São Francisco é a Salesforce Tower, isso já diz muita coisa, não?
O amor de Benioff pelo Mindfulness é tão grande que ele estabeleceu um relacionamento próximo com uma comunidade monástica francesa chamada Plum Village, cujos membros o inspiraram a espalhar a paz de espírito e a adicionar salas de meditação em cada andar da nova Salesforce Tower.
A torre de 326 metros de altura será a primeira a incluir esses espaços, disse Benioff. As salas destinam-se a incentivar os funcionários a voltarem o foco para dentro, em vez de pensar em preocupações externas.
Benioff defendeu o Mindfulness em sua empresa e disse no ano passado que já recebeu dezenas de monges em sua casa. Benioff disse ao New York Times certa vez:
“É uma era de ansiedade. O antídoto para a ansiedade é o Mindfulness”
As salas da Salesforce serão divididas em duas áreas, uma para leitura e outra para meditação. Elas estarão localizadas centralmente em cada andar, a fim de incentivar os funcionários a fazer uma pausa no trabalho e diminuir a velocidade.
Ele também está pressionando os líderes empresariais a criar uma cultura mais forte em torno do bem-estar de seus funcionários.
Ele incentiva outras empresas de tecnologia a fazer o mesmo. “Não é tão difícil de fazer“, disse ele.
Inspiração
Uma inspiração para algumas políticas, disse Benioff, foi sua passagem anterior pela gigante de software Oracle Corp., onde ele cumpriu muitos objetivos de carreira – mas encontrou algo faltando. Ele disse:
“Eu tive uma incrível sensação de insatisfação.”
Em 2005, Benioff disse ao jornal San Francisco Gate que começou a praticar Mindfulness quando era um funcionário que subia rápido na carreira na Oracle. Ele disse que, como alguém que sempre se interessou em “manter a cabeça limpa”, o Mindfulness o ajudou a aliviar parte do estresse que estava passando na época.
Outra inspiração foi Thich Nhat Hanh, um monge vietnamita de 90 anos e mestre zen que Benioff disse que ajudou a transportar da França para São Francisco após um derrame.
A Salesforce, que Benioff previu que em breve será a quarta maior empresa de software do mundo, foi fundada em 1999. Desde o início, a empresa prometeu doar 1% de seu patrimônio, 1% de seus produtos e 1% do tempo de seus funcionários para causas filantrópicas.
Liderança
Quando perguntado recentemente pelo The New York Times como o Mindfulness influenciou seu estilo de liderança, Benioff disse que a prática o ajudou a manter uma atitude que lhe permite ouvir atentamente antes de tomar qualquer decisão. Benioff disse:
“A atenção plena é uma parte importante da inovação. Os líderes precisam ouvir (e receber) mais.“
Benioff explicou o Mindfulness como uma prática consciente de focar o aqui e o agora para ver nosso mundo interior e exterior com olhos frescos e livres de obstáculos: “Se você quer ser um grande inovador, precisa cultivar a mente de um iniciante“, disse Benioff.
“Ter a mente de um iniciante informa meu estilo de gestão“, disse ele. “Estou tentando ouvir profundamente, e a mente do iniciante está me informando a dar um passo atrás, para que eu possa criar o que quer ser, não o que era. Eu sei que o futuro não é igual ao passado. Eu sei que tenho que estar aqui no momento.”
Genialidade
Marc Benioff é hoje um empresário bem-sucedido, presidente da Salesforce, proprietário de 3 bilhões de dólares em ações da empresa, está entre os 50 melhores e mais inteligentes do coachs do mundo, é filantropo e coautor do “Capitalismo Compassivo”. E ele instala o Mindfulness na empresa porque a atenção plena é boa para os funcionários. Ele sabe bem.
Ainda durante a High School, ele já fez e vendeu seu primeiro aplicativo.
Aos 15 anos ele fundou a Liberty Software, desenvolvendo e vendendo jogos para o Atari.
Aos 16 anos ele já ganhava royalties suficientes para pagar seu colégio.
Durante a faculdade ele fez estágio na Apple e sempre teve muita admiração por Steve Jobs.
Aos 21 anos ele entrou na Oracle na função de atendimento ao cliente.
Aos 23 anos ele ganhou o prêmio de “recruta do ano”.
Aos 25 anos foi nomeado Vice-Presidente, sendo o mais jovem VP da empresa. Nessa época, ele já ganhava mais de US$ 1 milhão por ano.
Mesmo assim, ele estava insatisfeito.
Decidiu então fazer um retiro espiritual na Índia, assim como fez Steve Jobs quando tinha 19 anos. Lá um guru disse a ele:
“Não se esqueça de fazer alguma coisa para o seu povo”.
E então ele teve a ideia de criar o método 1-1-1 que hoje é reconhecido como um dos projetos de filantropia mais respeitados do mundo, onde todo ano a empresa doa 1% de seus produtos, 1% de participação societária e 1% do tempo de cada um de seus funcionários para as comunidades onde atua.
Febre entre os CEOs
O Mindfulness tornou-se um tópico cada vez mais popular entre os líderes empresariais, com vários executivos importantes falando publicamente nos últimos anos sobre como isso os ajuda a melhorar os resultados financeiros.
O CEO da Intermix, Khajak Keledjian, compartilhou há pouco tempo seus segredos de paz interior com o The Wall Street Journal. Arianna Huffington, editora-chefe do Huffington Post, discutiu o Mindfulness em Thrive, seu novo livro, lançado recentemente. Outros líderes empresariais que adotaram o Mindfulness incluem o CEO da Aetna, Mark Bertolini e o CEO da Zappos.com, Tony Hsieh, o CEO do LinkedIn, Jeff Weiner, e até a Oprah, para citar apenas alguns.
Em um post recente, Arianna Huffington escreveu que:
“Não há nada sensível no aumento de lucros. Esta é uma economia difícil. … Redução de estresse e Mindfulness não apenas nos tornam mais felizes e saudáveis, são uma vantagem competitiva comprovada para qualquer empresa que queira uma.”
Thich Nhat Hanh, o mestre zen de 87 anos considerado por muitos como o pai do Mindfulness no Ocidente, diz que, enquanto os líderes empresariais praticam a atenção verdadeira, não importa se a intenção original é desencadeada pelo desejo de ser mais eficaz no trabalho ou obter lucros maiores. Isso ocorre porque a prática mudará fundamentalmente sua perspectiva de vida, pois naturalmente abre os corações para uma maior compaixão e desenvolve o desejo de acabar com o sofrimento dos outros.
O encontro do Mindfulness e a tecnologia
Talvez o cruzamento mais interessante no mundo dos negócios seja entre Mindfulness e tecnologia, pois elas parecem seguir direções opostas. A prática tem tudo a ver com desacelerar e esvaziar a mente, enquanto a revolução digital está acelerando nossas vidas e enchendo nossas cabeças com vastas quantidades de informações.
Apesar disso, eles têm uma longa história juntos. O CEO da Apple, Steve Jobs, era fascinado pelo zen-budismo, por um lado, e o Mindfulness está ligado há décadas ao estilo de vida californiano, onde muitas empresas de tecnologia estão localizadas.
Portanto, não é de surpreender que Thay, que vendeu mais de 2 milhões de livros nos EUA, tenha sido convidada pelo Google ao Vale do Silício para liderar um dia de conscientização dos CEOs de 15 das empresas de tecnologia mais poderosas do mundo.
A mensagem principal de Thay para os líderes de tecnologia que ele conheceu foi usar sua influência global para se concentrar em como eles podem contribuir para tornar o mundo um lugar melhor, em vez de ganhar tanto dinheiro quanto possível.
Ele e um grupo de monásticos ficaram um dia na sede do Google, passando um tempo com a gerência sênior e liderando cerca de 700 funcionários por meio de discussões sobre conscientização e meditação sentada e andando. Tantos funcionários queriam participar que a empresa teve que abrir dois locais adicionais para transmitir ao vivo sua palestra.
Thay fala do nítido contraste entre o ritmo frenético normal do trabalho na gigante da tecnologia e a sensação de paz resultante de ficar em silêncio durante seu dia de atenção no campus do Googleplex. Disse ele à época:
“A atmosfera era totalmente diferente. Há um silêncio, há uma paz que resulta de não fazer nada. E nesse espaço, eles podem perceber a preciosidade do tempo.”
Os benefícios do Mindfulness para os negócios
Como o Mindfulness funciona ainda é um mistério para a ciência, mas a pesquisa inicial descobriu que a prática pode ajudar de muitas maneiras essenciais para o sucesso nos negócios.
Aqui estão alguns exemplos:
1. Mantém você focado.
Nossas mentes tendem a vagar cerca de 50% do tempo durante o dia, de acordo com um estudo de Harvard. E uma vez que você se distraia, pode levar um tempo até que você se concentre novamente.
De fato, pode levar até 23 minutos para você voltar ao trabalho que estava fazendo antes da interrupção, de acordo com pesquisa de Gloria Mark, PhD, professora que estuda distração digital na Universidade da Califórnia, Irvine.
No entanto, estudos mostram que o treinamento de Mindfulness pode contribuir significativamente para sua mente parar de vaguear e se distrair.
2. Reduz o estresse.
O estresse é sem dúvida a doença principal do empresário. Quando o estresse ocorre, seu corpo entra em uma resposta protetora de luta ou fuga, quando os hormônios adrenalina e cortisol são liberados com força total.
O estresse pode atrapalhar a maneira como os neurônios se conectam e afetar sua capacidade de aprender e memorizar (o que pode explicar por que você tem dificuldade em se concentrar quando está estressado).
Uma revisão de 47 estudos sobre programas de Mindfulness descobriu que ele pode ter efeitos consideráveis na redução do estresse.
3. Melhora o raciocínio.
O Mindfulness também pode ter um efeito direto no cérebro. Um estudo descobriu que pessoas que fizeram oito semanas de um programa de Mindfulness aumentaram a espessura do hipocampo, a região do cérebro ligada ao aprendizado e à memória. O Mindfulness pode melhorar o pensamento divergente – o processo de gerar muitas novas ideias ao mesmo tempo, também conhecido como brainstorming.